Por: Jairton Fraga Araújo
Coordenador do Caerdes
Bem,
sobre certas coisas é relativamente fácil discorrer! Agroecologia de forma
muito simples é o estudo dos agroecossistemas sob o enfoque ecológico, e apresenta
distintas interpretações. Por outro lado, a agricultura orgânica, pode ser
perfeitamente compreendida em seu artigo 1° da “lei dos orgânicos” (lei 10.831
de dezembro 2003), que é seu marco legal, e a define claramente. Curiosamente,
ouço com muita ênfase o debate que se dá no interior dos movimentos de
agricultura “alternativa”. Sim, usei propositalmente a expressão “alternativa”
para simbolizar que tanto agroecologia, quanto agricultura orgânica, podem ser
adequadamente representadas por aquela expressão. Antecipo que não estou propondo
algo, tão somente e de forma muito
simples, recuso-me à uma discussão entre defensores de uma, ou de outra “visão” e coloco-me na condição de
quem compreende o “saber” e o “fazer” e fica ao lado de uma afirmação que não
busque desqualificar uma, em
detrimento da outra, em especial, quando se tenta colocar agroecologia como ciência
e a agricultura orgânica como
sub-sistema da agricultura ou um sistema de produção alternativo.
Novamente,
percebe-se muito mais, uma, necessidade de ideologizar-se a discussão do que sinais evidentes de diferenças, salvo, quanto à
natureza do sistema capitalista em melhor apropriar-se do denominado produto “orgânico
certificado”, por fatores associados a nosso ver ao: acesso à informação de
mercado, comercialização, tecnologias, e organização dos produtores. Bem, o
produto agroecológico também pode ser dessa maneira definido, basta verificar
os produtos oriundos da floresta e colocados no “demônio” –MERCADO por
populações tradicionais. Pois é, em ambas situações, precisamos do mercado, de qualificar os produtos, de buscar
canais de comercialização e de vender com lucro (”mais valia”) para poder
responder ao desafio de justificar aquela atividade econômica para os que a fazem, com geração de emprego e renda.
Claro, alguém vai afirmar que na agricultura orgânica não há limites para escala
de produção, enquanto o produto agroecológico é oriundo sempre ou em sua
esmagadora maioria de pequenos agricultores familiares e por vezes por pequenas
empresas (cooperativas) que objetivam o lucro social. Perfeito, o ideal é que
predominasse essa forma de produção e de organização sócio-economica, ou que,
não houvesse monocultura entre outros aspectos, contudo, no mundo real as
coisas acontecem sem padrões rígidos de análise, mormente os ideológicos.
Entretanto,
não creio ser a escala e nem a natureza da produção o problema crucial! Mas a
falta de concorrência entre os produtores de tais produtos, o que acaba
contribuindo para o elevado valor unitário dos mesmos (tanto orgânico quanto
agroecológico).
É
necessário articular a produção local para que repercuta sobre a regional a nacional
e sobre o produto que vai para exportação. Em ambos sistemas, os produtos podem e devem ser, sem prejuízo da segurança
alimentar do país, exportados. Por
outro lado, não vejo contribuição importante ao avanço da produção segura de
alimentos, com a discussão político-ideológica, como mero embate de posições. Podemos resolver os conflitos das
desigualdades econômicas entre nações e continentes, com políticas publicas de
valorização da agricultura ecológica.
Creio
que as “duas” (se é, que assim cabe colocar!) são constituídas com forte
preocupação agronômica, sociológica, econômica, ecológica e cultural. Não as
vejo dependentes de preceitos estranhos e de princípios fundamentais que não copiados
e em harmonia com a natureza. Entendo-as,
como socialmente apropriáveis e culturalmente defensáveis, pois não só erigem o
homem como ser fundamental, mas, sobretudo pondera a sua cultura, valores,
saberes, ética e forma de produção da existência.
Não
dá mais para tentar reconstruir o muro de Berlim, erguer barreiras ao diálogo inter,
pluri, multi e transdiciplinar. É hora
de fortalecer a saúde do planeta e das pessoas, com práticas e comportamento
saudáveis.
Agroecologia
ou agricultura orgânica, biodinâmica, natural, permacultura, regenerativa,
alternativa ou biológica, enfim, como se queira identificar? O importante é
integrar criticamente a ECONOMIA - SOCIEDADE – NATUREZA, numa onda de saberes e
fazeres que reedite o sonho do homem integral, livre e liberto, na natureza e
em perfeita harmonia e integração com as demais formas de vida do planeta.
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