13 de set. de 2013

O DESENVOLVIMENTO RURAL E O USO DA ÁGUA


Por Prof. Dr. Jairton Fraga Araújo



O Progresso experimentado pela humanidade nos últimos 100 anos está diretamente ligado à disponibilidade e distribuição da água potável. Nas regiões onde não se tem conseguido suprir as necessidades básicas dos seres vivos e do desenvolvimento econômico e má qualidade de vida do povo tem sido um dos fatores acelerados da degradação socioambiental.

Regiões imensas do planeta não compreenderam a importância estratégica dos recursos hídricos para a manutenção da vida no mundo. Não só as atividades econômicas estão comprometidas, mas o conjunto das ações humanas, em decorrência da possibilidade de eliminação da potabilidade da água doce, por conta da  adoção de modelos de crescimento insustentáveis.

Os países centrais desenvolvidos apresentam um elevado consumo per capita de água doce, em relação as nações periféricas ou em desenvolvimento e por isso mesmo, tem padrões de sustentabilidade mais consentâneos com os desafios de um mundo onde a qualidade do ambiente, a equidade social e a eficiência econômica sejam uma exigência de padrão universal.



CONTINENTE
CONSUMO (m³)
EUROPA
626
ÁSIA
542
ÁFRICA
202
OCEANIA
586


AMÉRICAS:

AMÉRICA DO NORTE
1680
AMÉRICA LATINA E CARIBE
402

A tabela acima reflete o atual quadro de consumo de água doce por continente.
 



Nas nações em desenvolvimento, apenas metade da população tem acesso à água potável. E nas nações industrializadas, os suprimentos subterrâneos e de superfície de água doce estão sendo poluídos pelos detritos e rejeitos industriais e municipais e pelo escoamento de áreas urbanas e rurais.

Ao contrário do combustível fóssil e do solo, as águas doces são uma fonte renovável. Se houver uso adequado e cuidadosa conservação, o ciclo hidrológico global pode satisfazer as necessidades atuais e projetadas por água em uma base sustentável.

As águas cobrem 70% de nosso planeta, no entanto, mais de 97% desta água é salgada (mares e oceanos) e menos de 3% do total corresponde a água doce. Entretanto 77% estão fora do alcance humano porque encontram-se na forma de gelo e neve nos círculos polares e áreas montanhosas. O restante, 22%, encontram-se em condições de mais difícil acesso, são as águas subterrâneas e uma pequena fração restante (1%) encontra-se nos lagos, rios, plantas e animais.

Lamentavelmente a água tem sido tratada como um recurso de uso ilimitado, que é fornecido o mais barato possível e em qualquer quantidade desejada. Todavia o crescimento populacional e as exigências crescentes por energia e alimentos estão impondo crescentes demandas aos suprimentos de água doce.

A crise é tão grave que hoje cerca de 1,4 bilhão de pessoas não tem acesso a água limpa e a cada 8 segundos morre uma criança por doença relacionada à água, como disenteria e cólera. Cerca de 80% das enfermidades no mundo são contraídas por causa de água poluída e no Iraque, dois barris de petróleo chegam a ser trocados por um barril de água mineral importada.

Inúmeras são as causas de escassez de água doce, o crescente uso da água na agricultura e indústria e a degradação ambiental com a morte de rios, riachos e córregos tem sido as mais frequentes. Em todo o mundo a irrigação na agricultura responde por cerca de 73% do consumo de água; 21% vão para a indústria; e os 6% restante destinam-se ao uso doméstico.

A água deve e precisa ser encarada como um elemento físico estratégico para o desenvolvimento, notadamente o rural. O acesso a água doce é cidadania, e no limiar do terceiro milênio ainda temos no semiárido brasileiro, a despeito dos imensos potenciais hídricos do país duas categorias de cidadãos “os com água e os sem água”.

Fomos capazes de operar transformações inimagináveis, no entanto, ainda nos deparamos com questões que desafiam a sociedade contemporânea, embora de fácil solução.

É bem verdade que os avanços tecnológicos e o progresso tem um preço e os conflitos pelo uso da água desde a produção de energia, irrigação, lazer, ao abastecimento humano necessitam ser gerenciados para atender o conceito de desenvolvimento sustentável anunciado no relatório Brundtland. “Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem às suas próprias”.

O meio rural historicamente desigual em relação ao espaço urbano, requer nova forma de avaliação e percepção, não há crescimento socialmente neutro: ele gera renda e acumula riqueza , que são socialmente apropriadas. Nesse sentido, as ações públicas antipobreza precisam estar explicitamente consideradas na formulação e execução de políticas de desenvolvimento – e não de forma acessória e subsidiária sendo apenas objeto de medidas compensatórias.

Não será possível diminuir desigualdades se as populações rurais não tiverem acesso a serviços básicos como: água potável, energia, transporte, saúde e atividades econômicas. Mas é a água o elemento promotor de vida, vida que ressurge no cinza da paisagem ressequida do Nordeste quando atomizada nos processos de irrigação possibilitando o ressurgimento de uma vida intensa e bruxeleante.

Também com água e acumulação de riqueza ocorre, povoado, distritos, aglomerados rurais ou não, de todo o Nordeste, especialmente no meio rural, não tem acesso a água, concentrando e condenando milhares de pessoas ao arbítrio do poder econômico.

Mesmo populações às margens de grandes corpos de água como o Rio São Francisco, com cerca de 2700 km de sua calha principal e 10% da população brasileira, com 58% de seu curso em pleno polígono das secas, apresentam realidades rurais das mais díspares onde a exclusão social e a econômica é a regra onde persistem formas escravocratas de poder e intensa degradação ambiental.

Ainda nessas condições, nosso maior desafio em pleno século XXI, é fazer com que nossos irmãos e irmãs tenham acesso a comida e água potável, bases para um adequado desenvolvimento rural integrado e sustentável.


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