Por Prof. Dr. Jairton Fraga Araújo
O Progresso experimentado pela humanidade nos últimos 100
anos está diretamente ligado à disponibilidade e distribuição da água potável.
Nas regiões onde não se tem conseguido suprir as necessidades básicas dos seres
vivos e do desenvolvimento econômico e má qualidade de vida do povo tem sido um
dos fatores acelerados da degradação socioambiental.
Regiões imensas do planeta não compreenderam a importância
estratégica dos recursos hídricos para a manutenção da vida no mundo. Não só as
atividades econômicas estão comprometidas, mas o conjunto das ações humanas, em
decorrência da possibilidade de eliminação da potabilidade da água doce, por
conta da adoção de modelos de
crescimento insustentáveis.
Os países centrais desenvolvidos apresentam um elevado
consumo per capita de água doce, em relação as nações periféricas ou em
desenvolvimento e por isso mesmo, tem padrões de sustentabilidade mais
consentâneos com os desafios de um mundo onde a qualidade do ambiente, a
equidade social e a eficiência econômica sejam uma exigência de padrão
universal.
CONTINENTE
|
CONSUMO (m³)
|
EUROPA
|
626
|
ÁSIA
|
542
|
ÁFRICA
|
202
|
OCEANIA
|
586
|
AMÉRICAS:
|
|
AMÉRICA DO NORTE
|
1680
|
AMÉRICA LATINA E CARIBE
|
402
|
|
Nas nações em desenvolvimento, apenas metade da população tem
acesso à água potável. E nas nações industrializadas, os suprimentos
subterrâneos e de superfície de água doce estão sendo poluídos pelos detritos e
rejeitos industriais e municipais e pelo escoamento de áreas urbanas e rurais.
Ao contrário do combustível fóssil e do solo, as águas doces
são uma fonte renovável. Se houver uso adequado e cuidadosa conservação, o
ciclo hidrológico global pode satisfazer as necessidades atuais e projetadas
por água em uma base sustentável.
As águas cobrem 70% de nosso planeta, no entanto, mais de 97%
desta água é salgada (mares e oceanos) e menos de 3% do total corresponde a
água doce. Entretanto 77% estão fora do alcance humano porque encontram-se na
forma de gelo e neve nos círculos polares e áreas montanhosas. O restante, 22%,
encontram-se em condições de mais difícil acesso, são as águas subterrâneas e
uma pequena fração restante (1%) encontra-se nos lagos, rios, plantas e
animais.
Lamentavelmente a água tem sido tratada como um recurso de
uso ilimitado, que é fornecido o mais barato possível e em qualquer quantidade
desejada. Todavia o crescimento populacional e as exigências crescentes por
energia e alimentos estão impondo crescentes demandas aos suprimentos de água
doce.
A crise é tão grave que hoje cerca de 1,4 bilhão de pessoas
não tem acesso a água limpa e a cada 8 segundos morre uma criança por doença
relacionada à água, como disenteria e cólera. Cerca de 80% das enfermidades no
mundo são contraídas por causa de água poluída e no Iraque, dois barris de
petróleo chegam a ser trocados por um barril de água mineral importada.
Inúmeras são as causas de escassez de água doce, o crescente
uso da água na agricultura e indústria e a degradação ambiental com a morte de
rios, riachos e córregos tem sido as mais frequentes. Em todo o mundo a
irrigação na agricultura responde por cerca de 73% do consumo de água; 21% vão
para a indústria; e os 6% restante destinam-se ao uso doméstico.
A água deve e precisa ser encarada como um elemento físico
estratégico para o desenvolvimento, notadamente o rural. O acesso a água doce é
cidadania, e no limiar do terceiro milênio ainda temos no semiárido brasileiro,
a despeito dos imensos potenciais hídricos do país duas categorias de cidadãos
“os com água e os sem água”.
Fomos capazes de operar transformações inimagináveis, no
entanto, ainda nos deparamos com questões que desafiam a sociedade
contemporânea, embora de fácil solução.
É bem verdade que os avanços tecnológicos e o progresso tem
um preço e os conflitos pelo uso da água desde a produção de energia,
irrigação, lazer, ao abastecimento humano necessitam ser gerenciados para
atender o conceito de desenvolvimento sustentável anunciado no relatório
Brundtland. “Desenvolvimento sustentável
é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer as
possibilidades de as gerações futuras atenderem às suas próprias”.
O meio rural historicamente desigual em relação ao espaço
urbano, requer nova forma de avaliação e percepção, não há crescimento
socialmente neutro: ele gera renda e acumula riqueza , que são socialmente
apropriadas. Nesse sentido, as ações públicas antipobreza precisam estar
explicitamente consideradas na formulação e execução de políticas de
desenvolvimento – e não de forma acessória e subsidiária sendo apenas objeto de
medidas compensatórias.
Não será possível diminuir desigualdades se as populações
rurais não tiverem acesso a serviços básicos como: água potável, energia,
transporte, saúde e atividades econômicas. Mas é a água o elemento promotor de
vida, vida que ressurge no cinza da paisagem ressequida do Nordeste quando
atomizada nos processos de irrigação possibilitando o ressurgimento de uma vida
intensa e bruxeleante.
Também com água e acumulação de riqueza ocorre, povoado,
distritos, aglomerados rurais ou não, de todo o Nordeste, especialmente no meio
rural, não tem acesso a água, concentrando e condenando milhares de pessoas ao
arbítrio do poder econômico.
Mesmo populações às margens de grandes corpos de água como o
Rio São Francisco, com cerca de 2700 km de sua calha principal e 10% da
população brasileira, com 58% de seu curso em pleno polígono das secas,
apresentam realidades rurais das mais díspares onde a exclusão social e a
econômica é a regra onde persistem formas escravocratas de poder e intensa
degradação ambiental.
Ainda nessas condições, nosso maior desafio em pleno século
XXI, é fazer com que nossos irmãos e irmãs tenham acesso a comida e água
potável, bases para um adequado desenvolvimento rural integrado e sustentável.
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