20 de set. de 2013

EDUCAÇÃO, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Por Macileide F. Passos Alves

Desde a promulgação da Lei 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a escola brasileira passou por grandes mudanças, algumas ainda constituem-se em grandes desafios. Podemos destacar que talvez a maior mudança tenha sido o rompimento do paradigma de um ensino com algumas raízes tecnicistas, ainda com amparo na Lei 5692/71, para um ensino mais universal, vez que a lei anterior enfatizava a qualificação profissional em nível de “2º grau”. Uma das ‘maiores novidades’ da nova LDB foi a orientação de uma educação mais voltada para a cidadania. O antigo 1º grau passou a ser o Ensino Fundamental e o 2º grau o Ensino Médio, mas isso não foi uma mera mudança na nomenclatura, a finalidade da lei, expressada pelo art. 2º trouxe um conceito mais amplo dos processos educativos.
                                                                                                       
Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, Presidência, 1996, p. 1).

            A redação do artigo citado representou uma mudança nos modos de aprender e ensinar, pois o ‘pleno desenvolvimento do educando’ está atrelado à prática de uma educação cidadã, que deverá estar pautada no compromisso com os aspectos civis e sociais que permeiam a realidade em que vivemos. 
            Em 1997 foram promulgados os PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais, que apresentaram os temas transversais para o Ensino Fundamental (1ª à 8ª série/9º ano), os referidos temas trazem como proposta “uma educação comprometida com a cidadania, baseados no texto constitucional, princípios segundo os quais orientam a educação” (BRASIL, Presidência, 1997, p. 20).    
Vale salientar que os PCN não estabeleceram novas disciplinas a serem estudadas, mas sim temas que podem ser ensinados em várias áreas do conhecimento e em qualquer série, isso constitui justamente o que é chamado de interdisciplinaridade, levando em conta a transversalidade – um aprendizado em consonância com a realidade.
As temáticas do PCN são: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual e Pluralidade Cultural. Todos os temas têm a sua devida importância, mas atenhamo-nos à temática “Meio Ambiente”.  O documento específico desse tema diz que:

“A principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e aprendizagem de procedimentos. E esse é um grande desafio para a educação”. (BRASIL, Presidência, 1997, p. 187)

 Deste modo, fica evidente que tratar de questões relacionadas ao meio ambiente faz parte do processo de formação para a cidadania. Logo, se os temas transversais não são disciplinas, o mais viável que se trabalhe a temática através de projetos, que é justamente uma das orientações do PCN. Atualmente muitas escolas e instituições organizam projetos de cunho ambiental, essas ações são boas oportunidades de ampliação do conhecimento, mas às vezes não contemplam a transversalidade. Algumas propostas sugerem ações de sensibilização e preservação, no entanto, em alguns casos, as atividades cessam com a culminância do projeto. Os conteúdos propostos nos PCN são atitudinais, ou seja, estão ligados ao cotidiano e à vivência diária. O aprendizado atitudinal:

“Supõe um conhecimento e uma reflexão sobre os possíveis modelos, uma análise e uma avaliação das normas, uma apropriação e elaboração do conteúdo, que implica a análise dos fatores positivos e negativos, uma tomada de posição, um envolvimento afetivo e uma revisão e avaliação da própria atuação” (ZABALA, 1998, p. 48).

            Assim, quando uma instituição propõe um projeto de Educação Ambiental, este deve ter a duração prevista, mas também deve prever ações contínuas, não restritas apenas “a semana do Meio Ambiente” ou ao bimestre/unidade de vivência do projeto, pois a ação contínua é justamente o fator que impulsiona a prática da educação para a cidadania.
Seguindo essa metodologia de trabalho que contempla o tripé: educação/meio ambiente/cidadania o Centro de Agroecologia, Energias Renováveis e Desenvolvimento Sustentável – CAERDES, na Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Departamento de Ciências e Tecnologias Sociais – DTCS, desenvolve ações contínuas através de projetos ambientais e difusão do conhecimento visando a sensibilização e mudança de atitudes, a fim de que se possa despertar nas pessoas o senso de uma cidadania mais ambiental e ecológica, ou seja, a consciência de que temos direitos ao meio ambiente saudável e equilibrado, mas também temos o dever de preservá-lo. Isso é possível não apenas às universidades e instituições de pesquisa, mas é possível a qualquer pessoa ou organização.
Não se trata da elaboração de ‘mega projetos’, mas de propostas que envolvem atitudes, como por exemplo, a coleta seletiva, o cuidado com o lixo e a higiene, o cultivo de uma horta orgânica, a utilização de produtos recicláveis, o consumo eficiente e consciente de papel, etc. Essas práticas aparentemente simples promovem a aprendizagem cidadã, ou seja, a pessoa aprende a ser cidadã e compreende sua responsabilidade em preservar o meio ambiente.

Referências

BRASIL, Presidência da República. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Brasília, 1996.

BRASIL, Presidência da República. Lei 5692/71. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5692.htm

BRASIL, Presidência. Parâmetros curriculares nacionais : apresentação dos temas transversais, ética / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro081.pdf

BRASIL, Presidência.  Parâmetros curriculares nacionais: Meio Ambiente. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em:


ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 1998.           

16 de set. de 2013

FUNCIONÁRIOS DA NIAGRO E COLABORADORES PARTICIPAM DE PALESTRA SOBRE ORGÂNICOS

No último sábado, o Centro de Agroecologia, Energias Renováveis e Desenvolvimento Sustentável – CAERDES, recebeu a visita dos funcionários e colaboradores da empresa NIAGRO. Na ocasião, o Prof. Dr. Jairton Fraga Araújo, Coordenador do CAERDES, ministrou uma palestra acerca de Produtos Orgânicos, contando com a presença dos bolsistas, que tiveram a oportunidade de apresentar projetos de pesquisa desenvolvidos no CAERDES.

Prof. Dr. Jairton Fraga Araújo,Coordenador do CAERDES, ministrando a palestra acerca da Agricultura Orgânica

Com o intuito de levar o conhecimento acerca da Produção de Orgânicos, dando enfoque em especial aos benefícios que tais produtos provocam em nossa saúde e a popularização atual do consumo destes pela população, a palestra objetivou também desmitificar a falsa impressão dos produtores de que os agrotóxicos eram a escolha mais plausível para melhorar o desempenho de sua colheita, demonstrando, de forma descontraída, a posição que a agricultura sustentável mantém em respeito à qualidade de seus produtos e uma produção em consonância com o respeito ao meio ambiente. Uma maneira de informar a todos que desenvolvimento em conjunto com consciência ambiental podem e devem andar juntos, ocasionando uma demanda de alimentos saudáveis sem prejuízos ao meio em que vivemos.

Além da palestra, os funcionários e colaboradores da empresa conheceram a estrutura do CAERDES e puderam observar de perto como os projetos funcionam na prática. Visitaram o laboratório, a área de campo, onde diversos projetos estão em desenvolvimento e ficaram impressionados com a seriedade destinada a estes e a dedicação aplicada ao projeto como um todo.
Funcionários da NIAGRO  e colaboradores em visita ao campo

13 de set. de 2013

O DESENVOLVIMENTO RURAL E O USO DA ÁGUA


Por Prof. Dr. Jairton Fraga Araújo



O Progresso experimentado pela humanidade nos últimos 100 anos está diretamente ligado à disponibilidade e distribuição da água potável. Nas regiões onde não se tem conseguido suprir as necessidades básicas dos seres vivos e do desenvolvimento econômico e má qualidade de vida do povo tem sido um dos fatores acelerados da degradação socioambiental.

Regiões imensas do planeta não compreenderam a importância estratégica dos recursos hídricos para a manutenção da vida no mundo. Não só as atividades econômicas estão comprometidas, mas o conjunto das ações humanas, em decorrência da possibilidade de eliminação da potabilidade da água doce, por conta da  adoção de modelos de crescimento insustentáveis.

Os países centrais desenvolvidos apresentam um elevado consumo per capita de água doce, em relação as nações periféricas ou em desenvolvimento e por isso mesmo, tem padrões de sustentabilidade mais consentâneos com os desafios de um mundo onde a qualidade do ambiente, a equidade social e a eficiência econômica sejam uma exigência de padrão universal.



CONTINENTE
CONSUMO (m³)
EUROPA
626
ÁSIA
542
ÁFRICA
202
OCEANIA
586


AMÉRICAS:

AMÉRICA DO NORTE
1680
AMÉRICA LATINA E CARIBE
402

A tabela acima reflete o atual quadro de consumo de água doce por continente.
 



Nas nações em desenvolvimento, apenas metade da população tem acesso à água potável. E nas nações industrializadas, os suprimentos subterrâneos e de superfície de água doce estão sendo poluídos pelos detritos e rejeitos industriais e municipais e pelo escoamento de áreas urbanas e rurais.

Ao contrário do combustível fóssil e do solo, as águas doces são uma fonte renovável. Se houver uso adequado e cuidadosa conservação, o ciclo hidrológico global pode satisfazer as necessidades atuais e projetadas por água em uma base sustentável.

As águas cobrem 70% de nosso planeta, no entanto, mais de 97% desta água é salgada (mares e oceanos) e menos de 3% do total corresponde a água doce. Entretanto 77% estão fora do alcance humano porque encontram-se na forma de gelo e neve nos círculos polares e áreas montanhosas. O restante, 22%, encontram-se em condições de mais difícil acesso, são as águas subterrâneas e uma pequena fração restante (1%) encontra-se nos lagos, rios, plantas e animais.

Lamentavelmente a água tem sido tratada como um recurso de uso ilimitado, que é fornecido o mais barato possível e em qualquer quantidade desejada. Todavia o crescimento populacional e as exigências crescentes por energia e alimentos estão impondo crescentes demandas aos suprimentos de água doce.

A crise é tão grave que hoje cerca de 1,4 bilhão de pessoas não tem acesso a água limpa e a cada 8 segundos morre uma criança por doença relacionada à água, como disenteria e cólera. Cerca de 80% das enfermidades no mundo são contraídas por causa de água poluída e no Iraque, dois barris de petróleo chegam a ser trocados por um barril de água mineral importada.

Inúmeras são as causas de escassez de água doce, o crescente uso da água na agricultura e indústria e a degradação ambiental com a morte de rios, riachos e córregos tem sido as mais frequentes. Em todo o mundo a irrigação na agricultura responde por cerca de 73% do consumo de água; 21% vão para a indústria; e os 6% restante destinam-se ao uso doméstico.

A água deve e precisa ser encarada como um elemento físico estratégico para o desenvolvimento, notadamente o rural. O acesso a água doce é cidadania, e no limiar do terceiro milênio ainda temos no semiárido brasileiro, a despeito dos imensos potenciais hídricos do país duas categorias de cidadãos “os com água e os sem água”.

Fomos capazes de operar transformações inimagináveis, no entanto, ainda nos deparamos com questões que desafiam a sociedade contemporânea, embora de fácil solução.

É bem verdade que os avanços tecnológicos e o progresso tem um preço e os conflitos pelo uso da água desde a produção de energia, irrigação, lazer, ao abastecimento humano necessitam ser gerenciados para atender o conceito de desenvolvimento sustentável anunciado no relatório Brundtland. “Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem às suas próprias”.

O meio rural historicamente desigual em relação ao espaço urbano, requer nova forma de avaliação e percepção, não há crescimento socialmente neutro: ele gera renda e acumula riqueza , que são socialmente apropriadas. Nesse sentido, as ações públicas antipobreza precisam estar explicitamente consideradas na formulação e execução de políticas de desenvolvimento – e não de forma acessória e subsidiária sendo apenas objeto de medidas compensatórias.

Não será possível diminuir desigualdades se as populações rurais não tiverem acesso a serviços básicos como: água potável, energia, transporte, saúde e atividades econômicas. Mas é a água o elemento promotor de vida, vida que ressurge no cinza da paisagem ressequida do Nordeste quando atomizada nos processos de irrigação possibilitando o ressurgimento de uma vida intensa e bruxeleante.

Também com água e acumulação de riqueza ocorre, povoado, distritos, aglomerados rurais ou não, de todo o Nordeste, especialmente no meio rural, não tem acesso a água, concentrando e condenando milhares de pessoas ao arbítrio do poder econômico.

Mesmo populações às margens de grandes corpos de água como o Rio São Francisco, com cerca de 2700 km de sua calha principal e 10% da população brasileira, com 58% de seu curso em pleno polígono das secas, apresentam realidades rurais das mais díspares onde a exclusão social e a econômica é a regra onde persistem formas escravocratas de poder e intensa degradação ambiental.

Ainda nessas condições, nosso maior desafio em pleno século XXI, é fazer com que nossos irmãos e irmãs tenham acesso a comida e água potável, bases para um adequado desenvolvimento rural integrado e sustentável.


11 de set. de 2013

MUDANÇAS NO CLIMA DO BRASIL ATÉ 2100

O clima no Brasil nas próximas décadas deverá ser mais quente – com aumento gradativo e variável da temperatura média em todas as regiões do país entre 1 ºC e 6 ºC até 2100, em comparação à registrada no fim do século 20.

No mesmo período, também deverá diminuir significativamente a ocorrência de chuvas em grande parte das regiões central, Norte e Nordeste do país. Nas regiões Sul e Sudeste, por outro lado, haverá um aumento do número de precipitações.


As conclusões são do primeiro Relatório de Avaliação Nacional (RAN1) do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), cujo sumário executivo foi divulgado nesta segunda-feira (09/08), durante a 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais (Conclima). Organizado pela FAPESP e promovido com a Rede Brasileira de Pesquisa e Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC), o evento ocorre até a próxima sexta-feira (13/09), no Espaço Apas, em São Paulo.


De acordo com o relatório, tendo em vista que as mudanças climáticas e os impactos sobre as populações e os setores econômicos nos próximos anos não serão idênticos em todo o país, o Brasil precisa levar em conta as diferenças regionais no desenvolvimento de ações de adaptação e mitigação e de políticas agrícolas, de geração de energia e de abastecimento hídrico para essas diferentes regiões.


Dividido em três partes, o Relatório 1 – em fase final de elaboração – apresenta projeções regionalizadas das mudanças climáticas que deverão ocorrer nos seis diferentes biomas do Brasil até 2100, e indica quais são seus impactos estimados e as possíveis formas de mitigá-los.


As projeções foram feitas com base em revisões de estudos realizados entre 2007 e início de 2013 por 345 pesquisadores de diversas áreas, integrantes do PBMC, e em resultados científicos de modelagem climática global e regional.


“O Relatório está sendo preparado nos mesmos moldes dos relatórios publicados pelo Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas [IPCC, na sigla em inglês], que não realiza pesquisa, mas avalia os estudos já publicados”, disse José Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador do encontro.


“Depois de muito trabalho e interação, chegamos aos resultados principais dos três grupos de trabalho [Bases científicas das mudanças climáticas; Impactos, vulnerabilidades e adaptação; e Mitigação das mudanças climáticas]”, ressaltou.


Principais conclusões


Uma das conclusões do relatório é de que os eventos extremos de secas e estiagens prolongadas, principalmente nos biomas da Amazônia, Cerrado e Caatinga, devem aumentar e essas mudanças devem se acentuar a partir da metade e no fim do século 21.


A temperatura na Amazônia deverá aumentar progressivamente de 1 ºC a 1,5 ºC até 2040 – com diminuição de 25% a 30% no volume de chuvas –, entre 3 ºC e 3,5 ºC no período de 2041 a 2070 – com redução de 40% a 45% na ocorrência de chuvas –, e entre 5 ºC a 6 ºC entre 2071 a 2100.


Enquanto as modificações do clima associadas às mudanças globais podem comprometer o bioma em longo prazo, a questão atual do desmatamento decorrente das intensas atividades de uso da terra representa uma ameaça mais imediata para a Amazônia, ponderam os autores do relatório.


Os pesquisadores ressaltam que estudos observacionais e de modelagem numérica sugerem que, caso o desmatamento alcance 40% na região no futuro, haverá uma mudança drástica no padrão do ciclo hidrológico, com redução de 40% na chuva durante os meses de julho a novembro – o que prolongaria a duração da estação seca e provocaria o aquecimento superficial do bioma em até 4 ºC.


Dessa forma, as mudanças regionais decorrentes do efeito do desmatamento se somariam às provenientes das mudanças globais e constituíram condições propícias para a savanização da Amazônia – problema que tende a ser mais crítico na região oriental, ressaltam os pesquisadores.


“As projeções permitirão analisar melhor esse problema de savanização da Amazônia, que, na verdade, percebemos que poderá ocorrer em determinados pontos da floresta, e não no bioma como um todo, conforme previam alguns estudos”, destacou Tércio Ambrizzi, um dos autores coordenadores do sumário executivo do grupo de trabalho sobre a base científica das mudanças climáticas.


A temperatura da Caatinga também deverá aumentar entre 0,5 ºC e 1 ºC e as chuvas no bioma diminuirão entre 10% e 20% até 2040. Entre 2041 e 2070 o clima da região deverá ficar de 1,5 ºC a 2,5 ºC mais quente e o padrão de chuva diminuir entre 25% e 35%. Até o final do século, a temperatura do bioma deverá aumentar progressivamente entre 3,5 ºC e 4,5 ºC  e a ocorrência de chuva diminuir entre 40% e 50%. Tais mudanças podem desencadear o processo de desertificação do bioma.   


Por sua vez, a temperatura no Cerrado deverá aumentar entre 5 ºC e 5,5 ºC e as chuvas diminuirão entre 35% e 45% no bioma até 2100. No Pantanal, o aquecimento da temperatura deverá ser de 3,5ºC a 4,5ºC até o final do século, com diminuição acentuada dos padrões de chuva no bioma – com queda de 35% a 45%.         


Já no caso da Mata Atlântica, como o bioma abrange áreas desde a região Sul do país, passando pelo Sudeste e chegando até o Nordeste, as projeções apontam dois regimes distintos de mudanças climáticas.


Na porção Nordeste deve ocorrer um aumento relativamente baixo na temperatura – entre 0,5 ºC e 1 ºC – e decréscimo nos níveis de precipitação (chuva) em torno de 10% até 2040. Entre 2041 e 2070, o aquecimento do clima da região deverá ser de 2 ºC a 3 ºC, com diminuição pluviométrica entre 20% e 25%. Já para o final do século – entre 2071 e 2100 –, estimam-se condições de aquecimento intenso – com aumento de 3 ºC a 4 ºC na temperatura – e diminuição de 30% a 35% na ocorrência de chuvas.         


Nas porções Sul e Sudeste as projeções indicam aumento relativamente baixo de temperatura entre 0,5 ºC e 1 ºC até 2040, com aumento de 5% a 10% no número de chuva. Entre 2041 e 2070 deverão ser mantidas as tendências de aumento gradual de 1,5 ºC a 2 ºC na temperatura e de 15% a 20% de chuvas.  


Tais tendências devem se acentuar ainda mais no final do século, quando o clima deverá ficar entre 2,5 ºC e 3 ºC mais quente e entre 25% e 30% mais chuvoso.         


Por fim, para o Pampa, as projeções indicam que até 2040 o clima da região será entre 5% e 10% mais chuvoso e até 1 ºC mais quente. Já entre 2041 e 2070, a temperatura do bioma deverá aumentar entre 1 ºC e 1,5 ºC  e haverá uma intensificação das chuvas entre 15% e 20%. As projeções para o clima da região no período entre 2071 e 2100 são mais agravantes, com aumento de temperatura de 2,5 ºC a 3 ºC e ocorrência de chuvas entre 35% e 40% acima do normal.                  


“O que se observa, de forma geral, é que nas regiões Norte e Nordeste do Brasil a tendência é de um aumento de temperatura e de diminuição das chuvas ao longo do século”, resumiu Ambrizzi.       


“Já nas regiões mais ao Sul essa tendência se inverte: há uma tendência tanto de aumento da temperatura – ainda que não intenso – e de precipitação”, comparou. 


Impactos e adaptação


As mudanças nos padrões de precipitação nas diferentes regiões do país, causadas pelas mudanças climáticas, deverão ter impactos diretos na agricultura, na geração e distribuição de energia e nos recursos hídricos das regiões, uma vez que a água deve se tornar mais rara nas regiões Norte e Nordeste e mais abundante no Sul e Sudeste, alertam os pesquisadores.


Por isso, será preciso desenvolver ações de adaptação e mitigação específicas e rever decisões de investimento, como a construção de hidrelétricas nas regiões leste da Amazônia, onde os rios poderão ter redução da vazão da ordem de até 20%, ressalvaram os pesquisadores.


“Essas variações de impactos mostram que qualquer tipo de estratégia planejada para geração de energia no leste da Amazônia está ameaçada, porque há uma série de fragilidades”, disse Eduardo Assad, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).


“Dará para contar com água. Mas até quando e onde encontrar água nessas regiões são incógnitas”, disse o pesquisador, que é um dos coordenadores do Grupo de Trabalho 2 do relatório, sobre Impactos, vulnerabilidades e adaptação.


De acordo com Assad, é muito caro realizar ações de adaptação às mudanças climáticas no Brasil em razão das fragilidades que o país apresenta tanto em termos naturais – com grandes variações de paisagens – como socioeconômicas.


“A maior parte da população brasileira – principalmente a que habita as regiões costeiras do país – está vulnerável aos impactos das mudanças climáticas. Resolver isso não será algo muito fácil”, estimou.


Entre os setores econômicos do país, segundo Assad, a agricultura é um dos poucos que vêm se adiantando para se adaptar aos impactos das mudanças climáticas.


“Já estamos trabalhando com condições de adaptação há mais de oito anos. É possível desenvolver cultivares tolerantes a temperaturas elevadas ou à deficiência hídrica [dos solos], disse Assad.


O pesquisador também ressaltou que os grupos populacionais com piores condições de renda, educação e moradia sofrerão mais intensamente os impactos das mudanças climáticas no país. “Teremos que tomar decisões rápidas para evitar que tragédias aconteçam.”

Insituto Carbono Brasil
Confira a matéria na íntegra no site domtotal/http://www.domtotal.com/

4 de set. de 2013

AGROECOLOGIA ALIA PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL COM QUESTÕES SOCIAIS

Uma produção agrícola que se preocupa não apenas com a conservação do meio ambiente, mas também com a igualdade entre sexos, preservação de comunidades tradicionais e com o bem-estar do consumidor. Essa é a agroecologia. Aliando conceitos de ecologia e preocupação social com técnicas de agricultura, essa forma de trabalho ganha cada vez mais adeptos e pode transformar o modo de cultivo dos alimentos no país.
A agroecologia pode ser definida como um campo de conhecimento interdisciplinar, que alia a produção agropecuária com conceitos ecológicos. Assim como a agricultura orgânica, essa forma de produção dispensa o uso de agrotóxicos e adubos químicos industrializados, utilizando elementos naturais para produzir alimentos, sem degradar o solo, lençois freáticos ou cursos de água da região. Porém, as preocupações dos adeptos da agroecologia vão muito além da preservação do meio ambiente.
Secretário executivo da Articulação Nacional de Agroecolog, Dênis Monteiro explica que ela é um campo de conhecimento interdisciplinar. Junto da preocupação com o meio-ambiente, a agroecologia trabalha com questões de sustentabilidade econômica, social, política e ética. Ela luta por questões como melhoria do acesso à terra, preservação de comunidades tradicionais, inclusão de populações pobres e segurança alimentar, entre outras.
Além disso, ainda atua na melhoria de técnicas de produção, que podem ajudar a expandir ainda mais essa forma de produção agrícola. “Podemos defini-la como uma ciência, mas também como prática social. É um movimento social que junta pessoas, redes e organizações preocupados com um desenvolvimento mais sustentável”, comenta Dênis.

Agroecologia alia técnicas artesanais agrícolas com preocupação social e estimula produções familiares como esta, na Paraíba (Foto: Divulgação/ AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia)
Prática social
Um dos focos principais da agroecologia é a luta a favor da reforma agrária. “O modelo de desenvolvimento rural no país é baseado numa grande concentração da propriedade de terra. É pouca gente com muita terra”, critica Dênis. Ele destaca que a manutenção da agroecologia depende de pequenas plantações familiares, que acompanham o crescimento dos vegetais mais de perto e sem a necessidade do uso de agrotóxicos. Portanto, de acordo com ele, quanto mais famílias tiverem acesso à terra no Brasil, maior será a produção agroecológica.
Outro ponto de ação da agroecologia é na defesa de comunidades tradicionais, como grupos indígenas e quilombolas. “O conhecimento desses grupos é uma verdadeira enciclopédia da ecologia, que não pode ser perdida”, comenta Monteiro. Essas comunidades desenvolvem uma agricultura mais natural, observando plantas, animais e até o clima da região, e aproveitam esse conhecimento, dispensando o uso de produtos químicos.
Enquanto a agricultura tradicional segue um modelo mecanizado, com pequena participação humana, a agroecologia é focada na produção familiar, com participação ativa das pessoas. “As mulheres têm um papel importantíssimo na família, cuidando da saúde e alimentação dos outros integrantes”, comenta Dênis.
Portanto, de acordo com o secretário executivo, as mulheres desempenham uma função primordial na agroecologia. “Elas devem ter espaço, voz nas decisões tomadas. Não a opressão que existe hoje”, destaca Monteiro. Por conta dessa importância, a igualdade entre sexos é defendida pela agroecologia.
Valorizando o trabalho dos agricultores, a agroecologia também trabalha na maior aproximação entre o produtor e o consumidor. Dênis explica que é estimulada a distribuição de alimentos em mercados locais, diminuindo o número de intermediários entre a produção e a venda, e dispensando os gastos e poluição envolvidos no transporte de alimentos por grandes distâncias. “Na agroecologia, o retorno financeiro aos produtores é maior, visto que a venda é feita de forma mais direta”, conta Monteiro.

Participação do Estado
Dênis comenta que, apesar de pequena, a participação do Estado a favor dos produtores agroecológicos está aumentando. “Nos últimos anos, surgiram políticas públicas que apoiam nosso trabalho”, conta. Hoje, 35% do dinheiro destinado à compra de alimentos para segurança alimentar é destinado à produção familiar. Creches, asilos e outras instituições que distribuem alimentos são abastecidas por produtores locais, o que fortalece os mercados regionais.
Atualmente, existe grande expectativa ao redor da Política Nacional de Agroecologia e Alimentos Orgânicos (Pnapo). A política do governo, que deverá ser colocada em prática a partir de setembro, estabelece uma série de instrumentos e procedimentos que deverão beneficiar os produtores orgânicos e agroecológicos.O governo deverá estimular a criação de créditos rurais para esse tipo de produção, além de assistências técnicas, promoção de pesquisas e modelos de distribuição que beneficiem o produtor familiar, entre outros estímulos. “Se a política for seguida à risca, fortalecerá bastante a agroecologia. Em três anos, teremos mais agricultores, maior produção, maior participação de mulheres e jovens”, prevê Dênis.
Mas o secretário é realista: existe um grande caminho a ser percorrido. Ele explica que, para que o Pnapo se transforme em realidade, é preciso haver uma grande mudança estrutural e política na agricultura brasileira. “O modelo político sempre beneficiou os agroexportadores. Precisamos mudar isso, para beneficiar também o pequeno produtor”. Questões como maior distribuição das terras, diminuição no uso de agrotóxicos e de sementes transgênicas, são os principais desafios que precisam ser enfrentados para que a política seja implementada.

A matéria acima foi publicada no site  globo.com no dia 31/08/2013 (link: http://redeglobo.globo.com/globoecologia/noticia/2013/08/agroecologia-alia