22 de ago. de 2013

O DESAFIO DE EDUCAR DE FORMA SUSTENTÁVEL

Por Ana Larissa Andrade Araújo

Imagem retirada do site http://pedagogoambiental.blogspot.com.br

Em tempos onde o capitalismo, a exploração econômica, o incentivo ao consumo desenfreado, a massificação cultural e mental e o paternalismo são protagonistas do cenário social de diversas nações, emerge o seguinte questionamento: é possível educar de forma sustentável?

Tal pergunta, ouso arriscar, pode conter resposta capaz de modificar todo o futuro de um país e de um povo. Assim, devemos ser inquisitivos, questionadores, chamando a responsabilidade para nós, cidadãos, capazes de responder a essa pergunta.

Esteja eu sendo otimista ou não, arrisco uma resposta: sim, é possível. Uma educação transformadora deve partir do pressuposto de que a consciência ambiental é política pública prioritária e as crianças, jovens e adultos em processo de aprendizagem devem ter acesso a mecanismos pedagógicos que possibilitem o desenvolvimento de habilidades e valores voltados à construção de um panorama futuro baseado na sustentabilidade.

A Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou em 2002 que entre 2005 e 2014 estaríamos vivendo a Década Internacional para o Desenvolvimento Sustentável. Ano que vem esta década se encerra e precisamos fazer um balanço: quais os avanços na educação sustentável? As nações foram capazes de promover a integração valorativa do homem ao ambiente, através da educação?

Nosso sistema funciona se preocupando basicamente com a formação do aluno no sentido acadêmico, preparando-o para resolver equações matemáticas de segundo grau, para o mercado de trabalho, de acordo com as metodologias tradicionais bastante limitadas, mas privando este mesmo aluno das vivências e experiências voltadas às questões sociais. O aluno educado de forma sustentável, por outro lado, possui uma visão holística das relações. É capaz de fazer ligações, estabelecer pontes que ultrapassam aquelas meramente cognitivas, enxerga os vários aspectos de uma questão e é capaz de solucionar problemas de forma mais eficaz.

Educar de forma sustentável é muito mais do que ensinar sobre meio ambiente, é humanizar conceitos, é tratar com competência e responsabilidade problemas ambientais graves (como a poluição sonora, hídrica e atmosférica), a destinação de resíduos sólidos, o esgotamento do solo e o aquecimento global. Mais do que humanizar, é preciso rever o processo de ensino-aprendizagem e as vertentes para as quais ele se volta, garantindo que sejam respeitados e valorizados os preceitos de integração ambiental e garantindo ao aluno o desenvolvimento de competências específicas para lidar com os problemas ambientais atuais e futuros, quando vistos sob uma ótica global e também sob um ótica específica. Em todas as esferas deve ser possível que o aluno possua consciência e sensibilidade para lidar com as questões prioritárias supracitadas. Mais do que imediatismos e medidas emergenciais, precisamos trabalhar com a prevenção.

O desafio é grande, ressalto novamente. Assim como podem ser grandes os resultados dessa mudança de postura. Mais do que debates e fóruns mundiais, onde as nações firmam compromissos que costumam ficar mais no papel do que na prática, é preciso priorizar as escolas, universidades, os institutos de ensino, pois são organismos vivos, meios para introduzir mudanças, inovar, direcionar a percepção e a criatividade, alterando a realidade.

Nas palavras do mestre Paulo Freire, que discutiu educação como poucos, concluo: "Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda. Se a nossa opção é progressiva, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho se não viver a nossa opção. Encarná-la, diminuindo, assim, a distância entre o que dizemos e o que fazemos."


Ana Larissa Andrade Araújo é discente do curso de Direito da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

21 de ago. de 2013

A QUESTÃO DO ASSOREAMENTO DO RIO NO VALE DO SÃO FRANCISCO

Por Saulo André de Souza Leite Melo

Imagem retirada do site http://www.odiariodaregiao.com

O Rio São Francisco, um dos principais rios do Brasil, nasce na Serra da Canastra, região do Chapadão da Zagaia, Minas Gerais. Banhando vários municípios, entre estes a região do Vale do São Francisco, que nas últimas décadas apresentou um elevado grau de desenvolvimento em expansão urbana e produção agrícola. Hoje o vale é o maior exportador de frutas do país e sozinho é responsável por cerca de 30% da exportação de frutas.

Com o desenvolvimento desenfreado e a falta de fiscalização das políticas públicas, a região ribeirinha denominada mata ciliar vem sendo desmatada para abrir espaço às cidades e lavouras. Com o desmatamento da região, o solo está escorrendo para o rio e se depositando no fundo, fazendo, pouco a pouco, com que o rio fique mais raso. 

Em algumas localidades, como na Ilha do Rodeadouro, é possível andar até o meio do Rio. Em algumas regiões, as embarcações não podem mais navegar devido ao perigo representado pelos "barrancos de areia". O baixo nível da água também está afetando a trajetória de alguns peixes que necessitam subir o rio para possibilitar sua reprodução.

Teoricamente, por lei (Código Florestal - Lei n.º 4.771/65), a mata ciliar é uma área de preservação permanente obrigatória. Toda a vegetação natural, arbórea ou não, presente ao longo das margens dos rios, ao redor de nascentes e reservatórios, deve ser preservada, de acordo com o artigo 2º desta lei. 

A largura da faixa de mata ciliar a ser preservada deve ser relacionada à largura do curso d'água. Essa lei existe há 48 anos, mas nem sempre é cumprida, especialmente aqui na região. Evitar o assoreamento, portanto, além de constituir tarefa de proteção ambiental, é também exercício da cidadania.

Saulo André de Souza Leite Melo é estudante de Engenharia Agronômica da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

20 de ago. de 2013

CAERDES FECHA PARCERIA COM A EMBRAPA

Na última semana, o Centro de Agroecologia, Energias Renováveis e Desenvolvimento Sustentável - CAERDES fechou uma importante parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA. 




Em visita ao CAERDES, alunos e pesquisadores se reuniram e discutiram a implantação de um novo projeto, com foco no cultivo e produção orgânica do tomate. O projeto envolverá, além dos pesquisadores da Embrapa, alunos de mestrado, de graduação em Ciências Biológicas da UPE, alunos de Engenharia Agronômica da UNEB e o Prof. Dr. Jairton Fraga Araújo, Coordenador do CAERDES.

19 de ago. de 2013

PALESTRAS REALIZADAS NO COLÉGIO DA POLÍCIA MILITAR LEVAM CONHECIMENTO À JOVENS E ADULTOS

Por Ana Larissa Andrade Araújo

O Projeto "Estratégias sociais de acesso social à legislação agroambiental, como mecanismo de proteção aos bens de uso comum" promoveu uma série de palestras no Colégio da Polícia Militar de Juazeiro na primeira quinzena de Agosto. 





O projeto objetiva levar à população o conhecimento acerca da legislação ambiental brasileira, partindo do pressuposto de que o conhecimento é transformador e pode alterar a realidade social de um bairro, comunidade, cidade e até mesmo de um país inteiro. As ações ocorrem de forma dinâmica e educativa, através de métodos como as palestras, vídeos, oficinas e cartilhas. 

Assim, o ciclo de palestras teve foco em três legislações principais: a Lei dos Orgânicos, dos Agrotóxicos e dos Crimes Ambientais e contou com um público de cerca de 100 alunos. É a continuação de um trabalho de educação ambiental sustentável iniciado neste ano pelo projeto supracitado.

As associações, escolas e demais entidades que se interessem em receber palestras ou outras ações do projeto em suas comunidades podem entrar em contato com o Centro de Agroecologia, Energias Renováveis e Desenvolvimento Sustentável (CAERDES), pelo telefone (74) 3611-7363, ramal 270 ou pelo email direitoverde@hotmail.com.


DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DAS PLANTAS



Art. 1º - Todas as plantas nascem perante à vida e têm os mesmos direitos à existência.

Art. 2º - O homem depende da planta e não pode exterminá-la. Tem obrigação de colocar a seu serviço os conhecimentos que adquiriu.

Art. 3º - Toda planta tem direito à atenção, aos cuidados e à proteção do homem. Se a morte de uma planta for necessária, deve ser precedida de cuidados para o transplante da espécie.

Art. 4º - Toda planta que pertence a espécie selvagem tem direito a viver em seu próprio ambiente natural terrestre ou aquático e a reproduzir-se.

Art. 5º - Toda planta que pertence a uma espécie ambientada tradicionalmente na vizinhança do homem tem direito a viver e crescer no ritmo e nas condições de vida e liberdade que forem próprias de sua espécie.

Art. 6º - Se uma planta for criada para alimentação, que o sejam em solo previamente preparado, utilizando-se técnicas e elementos que permitam o seu crescimento natural.

Art. 7º - Todo ato que implique a morte desnecessária de uma planta constitui biocídio, isto é, crime contra a vida.

Art. 8º - Todo ato que implique morte de grande número de plantas selvagens constitui crime contra a espécie.

Art. 9º - Os organismos de proteção e salvaguarda das plantas devem ter representação em nível governamental. Os direitos das plantas devem ser defendidos por lei, como os direitos humanos e os direitos dos animais.

Adalberto Melo de Andrade (modificado) in Carneiro, S. M. de B., 1997.

16 de ago. de 2013

A ALMA DO RIO

Prof. Dr. Jairton Fraga Araujo

Os elementais da natureza falam, ouvem e sentem, com outros sentidos que não os conhecidos, contudo, apenas as culturas aborígines e os celtas, perceberam essa relação permanente de todos os tempos. Nós, da chamada cultura ocidental, urbanos, cinzentos, tristes, somos definitivamente temporários pouco afeitos ao mundo da espiritualidade da natureza  que desconhecemos.  

Entre os elementais da natureza, desperta muita atenção os rios – sim, os rios, porque a razão e à semelhança dos seres humanos os rios possuem uma alma, (uma centelha vital que o anima) e são alimentadores do espírito humano. O superorganismo Gaia, é constituído por seres animados e inanimados e todos fazem parte da evolução planetária. Os sentidos mais materializados, percebem os seres animados e inanimados. Contudo, o imaterial está dissolto em uma tênue penumbra, real mas não visível. Assim o planeta é um enorme útero onde formas viventes e não viventes, materiais e imateriais convivem harmonicamente, coevoluindo e interagindo sempre. Realizam processos que estão submetidos a uma ordem perfeita mas pouco compreensível,  ocupando o espaço.

Todo nosso evoluir tem sido profundamente dorido, pois embora dotados de razão os homens experimentam sentimentos que em outros seres estão adormecidos. E esses sentimentos são a causa primária de nossas dificuldades evolutivas. Vivemos numa época e em sociedades, que perderam aspectos fundamentais do equilíbrio psíquico, por exemplo, o hábito da contemplação, as pessoas não admiram com a intensidade, atenção e apreço de outrora, os rios, a lua, as plantas, as rochas preciosas, o sol e as estrelas. Não nos entusiasmamos mais, com a chuva, senão, pelo aspecto econômico que resulta da sua ocorrência. Em outros tempos, seu significado ultrapassava muito a função econômica, encantava-nos o vê-la deitar sobre a terra, correr solta e possibilitar a vida. Em síntese, as pessoas não se permitem o ócio criativo.

Para a atual civilização a função econômica determina a vida e não a vida, determina as funções, essa é a lógica, que nos é, fatal.

Nós, estamos perdendo a humanidade que há em cada um, trocando-a pelas conquistas tecnológicas que produzem o excessivo conforto material e o acúmulo de riqueza na busca da felicidade. Toda busca desenfreada pela satisfação material nos desequilibra e produz dor e sofrimento à natureza. Francisco de Assis, foi um singular exemplo de vida irmanada com a natureza, renunciou à riqueza e passou a pregar a simplicidade e a espiritualidade. Tais considerações, parecem a princípio contraditórias, pois todo o esforço civilizatório foi, e o é, para melhorar a vida na Terra – vida, que de modo geral, simboliza para a esmagadora maioria dos viventes na Terra,  apenas e tão somente, bem estar físico – financeiro.

Uma observação mais detalhada, permite concluir, que todas as lutas pela sobrevivência estão reduzidas a organização socioeconômica e sua luta pela produção e pela distribuição das riquezas, como se, para além, nada houvesse, só o vazio e a ausência de significados. A lógica do Establishment é dominar e subordinar a natureza a uma função econômica.  Tais “verdades” se constituem em sistemas incompletos e fraturados. São modelos lineares, quando a vida é híbrida, são ensaios encapsulados da razão humana, destituídos do elemento espiritualidade e não por menos excludentes da totalidade.

Por sua vez os nossos irmãos – os rios, são criadouros, altruístas e sem ambiguidades. Nas cheias, podem proporcionar a vida ou destruí-la ferozmente, é a alma do rio se expandindo. Olhá-lo é revigorar a alma humana é renascer para a vida quotidiana. As águas organizadas correndo por sobre a superfície da terra são vivificadoras e o olhar detido ao rio é como adentrar sua alma numa catarse psicológica, lá encontramos paz, quietude, beleza, senso de estética, grandiosidade e são nesses momentos, que realizamos encontros com o universo.


Quando descerro meus olhos para o Velho Chico, vendo-o hidrosangrar, perdendo ao longo dos anos suas artérias principais e vitais, padecendo de ateroesclerose pela deposição de sedimentos em seu leito, vê-lo perder a visão pois arrancam suas matas ciliares protetivas e secam suas papilas gestativas, ver inserirem em suas entranhas corpos estranhos e toxinas sintéticas, sinto que a alma irmã – o rio, mesmo ferido, oferece-se em martírio, possibilitando que nosso corpo material dele se beneficie, com cada célula se renovando, cada reação bioquímica ocorrendo  simultaneamente ao correr das águas, ajudando-nos a descobrir novos significados para continuar vivendo. Neste instante, vejo que o belo e o trágico são expressões humanas e que o rio traz a  vida e a renovação. Convenço-me então, que sou seu irmão e que sua alma me alimenta como elementais que se completam.