A pesquisa da Universidade de
Newcastle é a comparação mais extensa feita até hoje da composição de alimentos
orgânicos em relação aos convencionais. — A descoberta constitui uma
importante contribuição às informações disponíveis atualmente para os
consumidores que, até agora, eram confusas e, em muitos casos, conflitantes —
diz o líder do estudo, Carlo Leifert, professor de Agricultura Ecológica na
universidade.
Os resultados contradizem um estudo de 2009 da agência reguladora de alimentos
britânica, a FSA, que não havia encontrado benefícios nutricionais
significativos nos orgânicos. A pesquisa da FSA se baseou em 46 publicações
sobre cereais, carnes e produtos lácteos. A da Universidade de Newcastle,
publicada no British Journal of Nutrition, revisou 343 pesquisas do mundo
inteiro. Leifert comenta: — Agora temos muito mais dados do que tínhamos
cinco anos atrás.
Embora silencie em relação aos benefícios à saúde, a pesquisa confirma a
expectativa de que, sem agrotóxicos, os vegetais produziriam mais
antioxidantes, já que muitos servem justamente como um mecanismo de defesa
natural contra pragas e doenças. A agricultura orgânica, ao eliminar o uso de
fertilizantes e pesticidas, apresenta, entre as vantagens, a menor degradação
do solo e dos rios, embora produza colheitas menos fartas, o que pode implicar
no preço.
Dados de 2013 do governo federal indicam que o número de produtores orgânicos individuais
no Brasil ultrapassa os 6,7 mil, sendo que existem 10 mil unidades de produção
com mais de um agricultor. A maior concentração de produtores está no Nordeste,
com quase 3 mil deles e 3,1 mil unidades cadastradas, seguido pelo Sul, com 1,9
mil e 3,1 mil unidades.
Mas o volume de pesquisas sobre o assunto ainda é escasso. De acordo com José
Pedro Santiago, engenheiro agrônomo que é diretor da IBD, uma das maiores
certificadoras de orgânicos do país, essa é uma necessidade para que os
produtos se tornem menos elitistas, fato que ocorre principalmente em função
dos preços de mercado:
— Essas pesquisas são raras no mundo e, ainda mais, no Brasil. Ajudam a
comprovar diferenças perceptíveis de forma empírica: uma planta que recebe
cargas elevadas de adubos solúveis, entre outras coisas, tem de ser diferente
de uma criada no ritmo da natureza.
A lei que regula a produção orgânica no Brasil abrange desde temas trabalhistas
aos ambientais e sociais. Segundo o Projeto Organics Brasil, após crescimento
de 22% em 2013, o mercado de produtos orgânicos deve crescer cerca de 35% neste
ano.
Por que isso é importante?
Os antioxidantes são associados à redução dos riscos de doenças crônicas, como
cardiovasculares e neurodegenerativas (controle dos níveis de colesterol e
prevenção ao Alzheimer, por exemplo), além de diferentes tipos de câncer. Os
benefícios à saúde, entretanto, ainda não foram comprovados em estudos
conclusivos.
O estudo constatou que os orgânicos apresentaram uma concentração entre 19% e
69% superior de antioxidantes. Levando em conta uma dieta recomendada de cinco
frutas e vegetais ao dia, substituí-los por produtos orgânicos equivale a comer
uma ou duas porções a mais desses elementos no que se refere à presença de
antioxidantes.
Os antioxidantes protegem as células dos efeitos danosos dos radicais livres.
Alguns nutrientes, naturalmente presentes ou adicionados nos alimentos, possuem
essa propriedade.
Eles agem inibindo a formação das moléculas, impedindo o ataque dos radicais
livres e reparando as lesões causadas.
A forma de ação
As células do nosso corpo estão constantemente sujeitas à formação de radicais
livres. Fatores externos como poluição e radiação solar e até nosso
metabolismo, pela respiração, podem liberar essas moléculas instáveis (por
terem perdido um elétron) no organismo. A missão deles é recuperar o elétron
por meio das moléculas que estão ao seu redor. Os antioxidantes têm a missão de
"devolver" esse elétron ao radical, para neutralizar sua ação nociva.
Onde eles têm
atuação
Estudos indicam que a vitamina C protege contra danos pela exposição a
radiações e medicamentos. Favorece a formação de dentes e ossos, ajuda na
imunidade e na respiração celular. Eficaz contra doenças infecciosas e
suplemento no tratamento de câncer. A vitamina E pode impedir danos associados
a doenças específicas como Alzheimer e Parkinson. A vitamina A tem apresentado
ação preventiva contra vários tipos de câncer como o de mama, estômago, bexiga
e pele. Está relacionada ao desenvolvimento dos ossos e à ação protetora na
pele e na mucosa. Os flavonoides previnem de doenças cardiovasculares. Tem ação
anti-inflamatória, hormonal, anti-hemorrágica, antialérgica e anticâncer. As
catequinas podem ser benéficas para algumas doenças como diabetes tipo 1,
cardiopatias e infecções virais.
Como se fartar
Entre os nutrientes com ação antioxidante, estão beta-caroteno, vitaminas A, E
e C, flavonoides, isoflavona, catequinas, carotenoides, licopeno. Veja em quais
alimentos encontrá-los.
Beta-caroteno — presente em alimentos de cor amarela/laranja e vegetais verdes
escuros, como mamão, cenoura, abóbora, manga, pêssego, espinafre, couve,
chicória, agrião.
Vitamina E — grãos e sementes oleaginosas, como gérmen de trigo, semente de
girasol, noz, amêndoa, avelã. Também encontrada em couve, abacate, alface,
espinafre, carne magra, produto lácteo e óleo vegetal.
Vitamina C — frutas cítricas como laranja, limão, abacaxi, kiwi.
Flavonoides/isoflavona — suco de uva, vinho tinto, morango, noz, soja.
Carotenoides e vitamina A — legumes e frutas de cor laranja/vermelhas. Alguns
carotenoides podem se converter em vitamina A, que também pode ser encontrada,
além de em legumes e frutas, em alimentos de origem animal.
Licopeno — alimentos avermelhados, como tomate, melancia, goiaba.
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