9 de set. de 2014

OS ELETROSSENSÍVEIS

Conheça os eletrossensíveis, pessoas que adoecem quando expostas à radiação eletromagnética.


As informacões que você lerá a seguir foram extraídas da matéria que eu escrevi para a edição de ISTO É que circula esta semana. Mas fiquei tão impressionada com a condição dessas pessoas eletrossensíveis (EHS é a sigla em inglês para designá-los) aos efeitos das ondas eletromagnéticas emitidas por torres de transmissão elétrica, antenas de televisão, celulares e Wi-Fi que decidi retomar o assunto aqui no blog. Há diversas organizações voltadas para o reconhecimento dessa condição como uma doença e para garantir a criação de locais limpos de ondas eletromagnéticas, as chamadas zonas brancas, para abrigar quem se descobre atingido pela EHS. 

Em geral, as pessoas afetadas precisam deixar suas casas e recolher-se por um algum tempo em áreas preservadas de ondas eletromagnéticas para se "desintoxicarem" dos efeitos da exposição. Você pode imaginar professores de tecnologia da informação, neurologistas, sociólogos e crianças deixando as cidades para viver em cavernas ou em vilas e abrigos projetados para bloquear ondas eletromagnéticas? Pois eles são cada vez mais numerosos. Quando expostos a campos de radiação eletromagnética, apresentam sintomas como dores de cabeça e no corpo, fadiga, estresse, distúrbios do sono. Seja qual for a sua causa, os sintomas de EHS são reais e, por vezes, incapacitantes. 

No mundo, portadores de EHS se mobilizam para que a condição seja declarada uma doença. Na semana passada, muitos se reuniram em uma zona criada para  eles na região de Saint-Julien-En-Beuchene, nos Alpes franceses. É uma área livre de antenas de telefonia e distante de linhas de transmissão de energia elétrica. Até aparelhos eletrodomésticos são evitados e as pessoas deixam o celular na entrada. 

Sob um toldo protetor, membros dessa comunidade e líderes como Philippe Tribaudeau, da ONG Une Terre pour Les EHS, fizeram um balanço das conquistas e desafios. Há 15 dias, a Comissão de Deficientes de Essonne, na França, concedeu, pela primeira vez, ajuda financeira permanente a um indivíduo com diagnóstico de eletro-hipersensibilidade. Antes, outros haviam obtido auxílio para comprar equipamentos de proteção, como medidores de ondas eletromagnéticas. Na prática, a vulnerabilidade de cada indivíduo com EHS é variável. Vai desde quem é gravemente afetado pela exposição, como Triauadou, que precisou se mudar para uma caverna, até uma alergia por causa da proximidade com computadores ou linhas de energia. 

A medicina considera o tema controverso. Há quem julgue o conjunto de dados suficiente para caracterizar a doença, enquanto outros especialistas acreditam que os sintomas se misturam aos de outras patologias, como a intoxicação por metais pesados. Entre os estudos em andamento, um deles está sendo realizado pelas autoridades de saúde francesas e tem resultados previstos para 2015. Mas há países que já tomaram medidas com base nas evidências científicas disponíveis. Na Suécia, a hipersensibilidade elétrica é reconhecida como um comprometimento funcional. “Existem cerca de 250 mil suecos com essa deficiência”, disse à ISTOÉ o cientista Olle Johansson, do Instituto Karolinska, em Estocolmo. “Essas pessoas merecem respeito e tratamento. Jamais discriminação”, diz. Lá, a associação para hipersensíveis recebe subsídio governamental. Na Espanha, Alemanha e EUA o problema é classificado como deficiência. No Brasil, pesquisas são feitas na Universidade Federal de Minas Gerais.  

Na América Latina, um caso grave é o do psiquiatra e neurologista colombiano Carlos Sosa. “Fui diagnosticado em 2006 e precisei mudar radicalmente de vida”, disse à ISTOÉ. Aos 47 anos, vive sozinho nos arredores de Medellín em uma casa na qual possui algo que chama de gaiola de Faraday, para se proteger das ondas eletromagnéticas. Sosa suporta cerca de 20 minutos de conversa pelo telefone ou computador até que apareçam sintomas como dores de cabeça e náusea. Em 2006, saiu de sua casa porque percebeu que a origem do mal-estar intenso que sentia havia três anos era a proximidade com uma antena de micro-ondas/Internet e Wi-Fi (sem fios). “Precisei me mudar quando a cidade em que vivia foi inundada por cerca de quatro mil antenas”, contou.O agravamento dos sintomas o levou a parar de trabalhar, lançando-o em uma vida de dificuldades financeiras. Ele não tem ajuda alguma.“Mas os estudos provarão que essas ondas são tão perigosas para a saúde como o tabaco e o amianto”, acredita. Para o cientista sueco Johansson, as ondas eletromagnéticas não são inócuas como muitos defendem. “Precisamos investigar em profundidade os efeitos desse novo fenômeno que se expande tão rapidamente pelo mundo por meio de dispositivos móveis.” 

Para saber mais: 

Após a publicação deste texto na edição que foi às bancas no sábado 30, recebi uma mensagem da professora Elza Antonia Pereira Boiteux, professora associada do departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Universidade de São Paulo sugerindo boas fontes de informação para quem deseja aprofundar a pesquisa sobre os eletrossensíveis. Anote:  

No Brasil  

- A Dra. Adilza Condessa Dode, (UFMG), é uma das maiores especialistas no assunto. Defendeu a tese de doutorado com o título: Mortalidade por Neoplasias e a Telefonia Celular no Município de Belo Horizonte - MG. Ela tem um site com mais informações : www.mreengenharia.com.br. Email: adilzadode@mreengenharia.com.br 

- A Dra. Ciliane Matilde Sollito, bióloga em SP, obteve o doutoramento com a tese: Leucemia e proximidade de residências a linhas de energia elétrica na cidade de São Paulo. nilcili@uol.com.br 

No exterior 

- O professor Martin Blank, aposentado da Columbia University, publicou recentemente um livro no qual demonstra os efeitos biológicos dos campos eletromagnéticos sobre a saúde. O título é “Overpowered : What Science Tells Us about the Dangers of Cell Phones and Other WiFi-Age Devices”, Seven Stories Press, New York, 2014.

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