Os investimentos em
insumos modernos não estão dando conta de melhorar a produtividade das lavouras
Sérgio de Oliveira
O espírito da veterana engenheira agrônoma Ana Primavesi, autora do
clássico “Manejo Ecológico do Solo”, pairou sobre o I Simpósio Agroestratégico
“Repensando a agricultura do futuro”, promovido pela Aprosoja-MT em Cuiabá
nesta quinta-feira, 9 de julho. Primavesi foi uma das pioneiras na preservação
do solo e recuperação de áreas degradadas, abordando o manejo do solo de
maneira integrada com o meio ambiente, o que soava como uma nota dissonante
frente à chamada revolução verde, que pretendia resolver todos os problemas da
agricultura com a aplicação de adubos químicos e agrotóxicos. Foi taxada de
ecologista e seus ensinamentos não foram absorvidos na medida da sua
importância para a agricultura tropical.
“Ela tinha razão, pena que não escutamos a velhinha”, desabafou o
agrônomo formado pela Esalq e produtor rural José Eduardo Júnior, que planta
1.200 hectares no médio-norte de Mato Grosso. Segundo ele, a agricultura está
numa encruzilhada, com o atual sistema de produção incapaz de responder aos
investimentos. “O solo está pedindo socorro, está doente, esgotado com a
monocultura da soja em sucessão com milho e algodão”.
Este foi o tom que dominou o evento, em que pesquisadores da Embrapa e
da Fundação Mato Grosso assinaram embaixo das palavras de José Eduardo. Para
uma plateia de uma centena de produtores rurais de todo o estado, eles
criticaram o modelo atual e pregaram o estabelecimento de um “sistema de
produção” e não apenas de “sistemas de cultivo”, como tem sido praticado – ou
seja, o agricultor não pode levar em conta apenas o que fazer na próxima safra,
mas sim obter resultados nas lavouras garantindo que os recursos naturais
mantenham-se à disposição ao longo dos anos.
“A produtividade da soja está estagnada há quinze anos, a do algodão
também, com um agravante: quase todo dia o agricultor tem que entrar
pulverizando a plantação, às vezes chega a 30 no caso do algodão”, disse o
pesquisador Leandro Zancanaro, da Fundação MT. “Usamos cada vez mais tecnologia
e nada de aumentar a produtividade. Nunca investimos tanto, mas cadê os
resultados”. Para ele, está-se confundindo ferramentas tecnológicas com
tecnologia, que significa conhecimento e não equipamento. “Não sei se
agricultura de precisão é conhecimento... Nós não procuramos entender as
plantas. Áreas corrigidas há muito tempo começaram a ter outros problemas”.
Zancanaro citou a revista AgroDBO de agosto de 2014 que tratou do campeão de
produtividade Cesb do ano passado. “Ele teve alta produtividade, mas a revista
registrou que foi numa área pequena e que se diferenciava do restante da
propriedade”.
José Eduardo Júnior mostrou o que vem fazendo desde 2007 para driblar os
caprichos da natureza: observá-la. “Temos que aprender com ela”. Em sua
propriedade, ele implantou um sistema que integra rotação de culturas,
consorciação, plantio de cobertura, sempre em plantio direto, até mesmo de
arroz, além da soja, milho, braquiária, crotalárias, pé-de-galinha, nabo
forrageiro, milheto e trigo mourisco. Segundo ele, já no primeiro ano notou
diferenças na lavoura, que passou a contar com um volume maior de matéria
orgânica no solo, e a cada ano que passa percebe maior produtividade nas
culturas. A matéria orgânica proporciona o equilíbrio e diversificação da
microfauna do solo – hoje ele convive sem problemas com nematoides, pois estão
em equilíbrio no ambiente - e o aumento da fertilidade em geral do solo, o que
tem proporcionado à sua fazenda um ganho até 60% maior que a média da região,
entre economia de adubo e defensivos e elevação da produtividade.
“Esta é a nova onda da agricultura, que nada mais é do que a velha
fórmula da dra. Primavesi”, define Júnior. Zancanaro emenda: “Temos um ganho
com a genética, mas a condição fitossanitária está se agravando e é ela que vai
nos fazer mudar".
Fonte: Portal DBO
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