4 de set. de 2015

Agroecologia e agricultura orgânica. O que são? E o que não são?

Por: Jairton Fraga  Araújo
Coordenador do Caerdes



Bem, sobre certas coisas é relativamente fácil discorrer! Agroecologia de forma muito simples é o estudo dos agroecossistemas sob o enfoque ecológico, e apresenta distintas interpretações. Por outro lado, a agricultura orgânica, pode ser perfeitamente compreendida em seu artigo 1° da “lei dos orgânicos” (lei 10.831 de dezembro 2003), que é seu marco legal, e a define claramente. Curiosamente, ouço com muita ênfase o debate que se dá no interior dos movimentos de agricultura “alternativa”. Sim, usei propositalmente a expressão “alternativa” para simbolizar que tanto agroecologia, quanto agricultura orgânica, podem ser adequadamente representadas por aquela expressão. Antecipo que não estou propondo algo, tão somente e de forma muito simples, recuso-me à uma discussão entre defensores de uma, ou  de outra “visão” e coloco-me na condição de quem compreende o “saber” e o “fazer” e fica ao lado de uma afirmação que não busque desqualificar uma, em detrimento da outra, em especial, quando se tenta colocar agroecologia como ciência  e a agricultura orgânica como sub-sistema da agricultura ou um sistema de produção alternativo.

Novamente, percebe-se muito mais, uma, necessidade de ideologizar-se a discussão do que  sinais evidentes de diferenças, salvo, quanto à natureza do sistema capitalista em melhor apropriar-se do denominado produto “orgânico certificado”, por fatores associados a nosso ver ao: acesso à informação de mercado, comercialização, tecnologias, e organização dos produtores. Bem, o produto agroecológico também pode ser dessa maneira definido, basta verificar os produtos oriundos da floresta e colocados no “demônio” –MERCADO por populações tradicionais. Pois é, em ambas situações, precisamos do mercado, de qualificar os produtos, de buscar canais de comercialização e de vender com lucro (”mais valia”) para poder responder ao desafio de justificar aquela atividade econômica para os que a fazem, com geração de emprego e renda. Claro, alguém vai afirmar que na agricultura orgânica não há limites para escala de produção, enquanto o produto agroecológico é oriundo sempre ou em sua esmagadora maioria de pequenos agricultores familiares e por vezes por pequenas empresas (cooperativas) que objetivam o lucro social. Perfeito, o ideal é que predominasse essa forma de produção e de organização sócio-economica, ou que, não houvesse monocultura entre outros aspectos, contudo, no mundo real as coisas acontecem sem padrões rígidos de análise, mormente os ideológicos.

Entretanto, não creio ser a escala e nem a natureza da produção o problema crucial! Mas a falta de concorrência entre os produtores de tais produtos, o que acaba contribuindo para o elevado valor unitário dos mesmos (tanto orgânico quanto agroecológico).

É necessário articular a produção local para que repercuta sobre a regional a nacional e sobre o produto que vai para exportação.  Em ambos sistemas, os produtos podem e devem ser, sem prejuízo da segurança alimentar do país, exportados. Por outro lado, não vejo contribuição importante ao avanço da produção segura de alimentos, com a discussão político-ideológica, como mero embate de posições.  Podemos resolver os conflitos das desigualdades econômicas entre nações e continentes, com políticas publicas de valorização da agricultura ecológica.

Creio que as “duas” (se é, que assim cabe colocar!) são constituídas com forte preocupação agronômica, sociológica, econômica, ecológica e cultural. Não as vejo dependentes de preceitos estranhos e de princípios fundamentais que não copiados e em harmonia com a natureza. Entendo-as, como socialmente apropriáveis e culturalmente defensáveis, pois não só erigem o homem como ser fundamental, mas, sobretudo pondera a sua cultura, valores, saberes, ética e forma de produção da existência.

Não dá mais para tentar reconstruir o muro de Berlim, erguer barreiras ao diálogo inter, pluri, multi e transdiciplinar.  É hora de fortalecer a saúde do planeta e das pessoas, com práticas e comportamento saudáveis.

Agroecologia ou agricultura orgânica, biodinâmica, natural, permacultura, regenerativa, alternativa ou biológica, enfim, como se queira identificar? O importante é integrar criticamente a ECONOMIA - SOCIEDADE – NATUREZA, numa onda de saberes e fazeres que reedite o sonho do homem integral, livre e liberto, na natureza e em perfeita harmonia e integração com as demais formas de vida do planeta. 

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